Segundo o relatório da FAO de 2010, entre
os anos de 2000 e 2010, cerca de 13 milhões de hectares, uma área do tamanho da
Costa Rica, foram desflorestados anualmente. Setenta por cento foi convertida
para a agricultura, levando a uma inevitável perda da diversidade faunística.
Além do desmatamento, a caça e a invasão de espécies exóticas continuam
contribuindo para o desaparecimento dos animais ou para a diminuição das
populações.
Apenas na Amazônia, 60 milhões de animais
são caçados anualmente. O ser humano já vem colaborando para a defaunação desde
a época do Pleistoceno, há doze mil anos atrás, quando viviam mamutes,
preguiças gigantes, tigres-dente-de-sabre e gliptodontes (tatus gigantes). Uma
das teorias mais aceitas é que nós causamos a extinção desta megafauna devido à
competição por alimentos e caça, em conjunto com as mudanças climáticas
naturais que aconteceram naquela época.
Não por acaso estaria ocorrendo agora uma
nova extinção em massa, a sexta, e pelos mesmos motivos, com a diferença de
também sermos responsáveis pelas mudanças climáticas, justamente na era chamada
Antropoceno. Nos últimos 500 anos, 322 espécies de vertebrados foram extintas e
pelo menos 10 mil espécies continuam a desaparecer anualmente. Antes dos
humanos a taxa de extinção era de uma espécie a cada 10 milhões anuais, agora
são 100 a cada mil por ano, ou seja, um aumento de mil vezes.
Se esse ritmo persistir, em 100 anos
metade do número de espécies conhecidas desaparecerá e isso mudará completamente
a dinâmica dos ecossistemas. O principal processo afetado é a dispersão de
sementes realizada pelos animais, que faz com que a diversidade vegetal fique
concentrada em poucas espécies, diminuindo a área verde. Essa situação acaba
causando a degradação dos solos e o assoreamento de rios, atingindo então a
todos nós.
As florestas também agem nos ciclos das
chuvas e o seu desaparecimento pode levar a períodos de estiagem, sem contar
com toda a biomassa lançada na atmosfera na forma de carbono que acaba
impactando diretamente no clima planetário, levando às mudanças climáticas. E
ainda há os serviços ambientais: 75% da produção agrícola do mundo são
polinizadas por insetos; morcegos e aves controlam pragas da agricultura;
predadores controlam roedores com potencial de disseminação de doenças;
vertebrados e invertebrados têm importante papel na ciclagem de nutrientes e
também na decomposição; e finalmente os anfíbios controlam a população de algas
e de detritos na água. Os EUA calculam em 45 bilhões de dólares anuais os
serviços ambientais prestados por predadores no combate de pragas da
agricultura naquele país.
Mas da mesma maneira que destruímos,
podemos reconstruir. Existem vários casos de sucesso na reintrodução de
espécies, como o do mico-leão-dourado, um importante dispersor de sementes da
Mata Atlântica, ou do condor californiano, um importante decompositor. Com o
desenvolvimento de técnicas modernas de reprodução assistida pela medicina
veterinária, ainda podemos conservar em nitrogênio líquido, por centenas de
anos, o material genético, embriões e gametas de espécies ameaçadas para
usarmos mais tarde para clonar espécies desaparecidas (desextinção) ou em
inseminações artificiais. Já a tecnologia de aparelhos celulares de biólogos
ajuda na localização de populações ameaçadas e na sua preservação.
O mais indicado e menos custoso, porém, é
conservar os animais em seu próprio habitat, pois se não existissem áreas
protegidas no planeta, o número de perdas estaria 20% maior. E o Brasil, líder
mundial de biodiversidade, tem um papel chave nisso, pois sustentabilidade não
se faz plantando pasto na Amazônia ou eucaliptos no Pampa.
Figura 1. Área
com as maiores taxas de defaunação do planeta. Fonte: Revista Science
Eduardo Antunes Dias é Médico Veterinário com mestrado e
doutorado em Reprodução Animal na USP e atualmente é pesquisador na UFRGS.
É fundador da Rede Sustentabilidade – RS e componente do
diretório estadual